Egydio Coelho da Silva
e Suely Silva
História da fundação de Monte Verde
Camanducaia - Distrito
de Monte Verde -MG - Brasil
Capítulo XI– memórias destes 45 anos de Monte Verde
Descobri
Monte Verde em novembro de 1976.
Minha campanha política para vereador em São Paulo tinha terminado
melancolicamente.
Tivera cerca de sete mil votos, como candidato do MDB.
Para ganhar, precisaria de ter no mínimo 30 mil votos.
Minha esposa, Nair, estando fora da campanha, com certeza sabia que
minhas chances eleitorais eram praticamente inexistentes.
Ela aproveitou esse tempo de minha campanha política, para estudar a
aplicação do dinheiro, que recebera da venda de seu apartamento, que
adquirira quando solteira, com financiamento do IPESP e que ficava
na Vila Mariana, na Rua Rio Grande, em frente a famosa casa, que Jânio
Quadros tinha e que dizia que era seu único patrimônio.
Ela me comunicou que havia comprado um terreno em Monte Verde, que eu
sequer sabia onde ficava, com a esperança de construir uma casa de
veraneio.
Contrariado inicialmente, ao chegar aqui fiquei impressionado com a
beleza do lugar, relativamente próximo a São Paulo, com abundância de
araucárias brasilienses e arquitetura típica de inverno, lembrando
arquitetura que eu vira na Suíça. Foi amor à primeira vista.
Nós já tínhamos, uma agência de turismo, que Nair administrava e se
especializara em excursões.
Fizemos algumas excursões a Monte Verde, apesar da precariedade da
estrada.
Numa dessas excursões, o ônibus chegou em Camanducaia e
não pode subir porque uma forte chuva tornou a estrada intransitável.
Foi prejuízo total: tivemos que devolver o dinheiro recebido dos
turistas e hotel não aceitou nos devolver o valor da reserva.
Em 1977, tivemos conhecimento de que o BDMG -Banco de desenvolvimento de
Minas Gerais abrira possibilidade de financiamento a pequenas e médias
empresas, ligadas ao ramo de turismo.
Daí, surgiu a ideia de construirmos um hotel em MV. Havia uma política
simpática e estimulante do banco aos interessados.
A burocracia era grande, mas conseguimos atender a todas, graças a
orientação do próprio banco, que nos indicou um despachante, que tinha
escritório em Ribeirão Preto.
Acabou dando certo e contratamos o empreiteiro Miguel Iliuk, que
construiu o Green Village em um ano e foi inaugurado emn1.978, na atual
Avenida Sol Nascente.
Na época, nesta avenida, que era chamada de Avenida 1,
existia apenas uma casa, que fora construída por Verner Grinberg "para
iniciar a valorização" da avenida.
A administração do hotel, desde a sua construção, sempre foi da Nair,
mesmo porque duas cabeças não conseguem administrar empresa.
Isto me deixou livre para, em Monte Verde, ter participação comunitária.
Acmv - Associação comercial de Monte Verde
Esta circunstância me fez participar da fundação da Acmv
- Associação comercial de Monte Verde e fui seu vice-presidente na sua
primeira diretoria.
A iniciativa da fundação da Acmv foi de Jorge Letri. Era animado e
cheio de ideias. Era um sonhador.
Tinha certa dificuldade em relacionamento humano, pois se impacientava
com os demais comerciantes, que não conseguiam acompanhá-lo nas ideias e
ações.
Os nossos estatutos previam que deveríamos ter reunião de diretoria
semanalmente e o diretor, que deixasse de comparecer a cinco reuniões
consecutivas, perdia o mandato.
Mas mesmo assim, a pouca frequência da maioria irritava Jorge Letri. E,
por isso, me disse que não iria mais marcar reuniões e tomaria as
decisões que achasse correta.
Discordei e lhe lembrei que - se não comparecesse a cinco
reuniões consecutiva - perderia o mandato.
Irritado, me entregou a ata e disse: "então assuma a presidência que eu
não participo mais".
Surpreendido com a sua atitude, fui obrigado a assumir a
presidência, que eu não queria, pois tinha pouco tempo disponível e não
morava em Monte Verde.
Não fui um bom presidente porque não me ocupei com a principal função de
um presidente de associação comercial, que é o de fortalecer a categoria
de empresários. Monte Verde não tinha sub-prefeitura, o administrador era nomeado pelo
prefeito de Camanducaia, que sempre escolhia seu cabo eleitoral mais
fiel na Vila. Nem sempre competente e envolvido com os objetivos da
comunidade. Ocupei-me, então, em usar a Acmv para reivindicar das
autoridades municipais e estaduais melhorias para Monte Verde. Promovia reunião com empresários e moradores no hotel Green Village ou
na Casa de Pedra e todas reclamações e pleito, que recebia as incluía em
oficio ao Prefeito ou Governo de Minas Gerais.
Uma das aspirações de MV era ter um portal, semelhante ao que
existia em Gramados.
Esta oportunidade surgiu, quando recebemos a visita da primeira dama
do Estado, Risoleta Neves, esposa de Tancredo Neves, então
governador de Minas. Ela e parte de sua comitiva se hospedaram no
Green Village.
Aproveitamos sua visita e, em
nome da Associação Comercial e da Sociedade Amigos de Monte Verde (SAMV),
lhe entregamos o pedido pra que conseguisse verba para se construir
o portal na entrada da cidade.
A surpresa agradável foi que ela realmente conseguiu a verba, só
pode ser depositada na conta da Prefeitura de Camanducaia, em face
de exigência legal.
O prefeito Emydio Moreira Filho aceitou o depósito e deixou a cargo
da Acmv e da SAMV a contratação de arquiteto e empreiteiro. Miguel
Iliuk foi empreiteiro escolhido e procurou fazer uma construção
semelhante ao portal de Gramados.
Inaugurado o portal, o lado direito ficou sob administração da Acmv,
para dar informações turísticas e o lado esquerdo com a SAMV para
ter um sistema de segurança, vigilante sobre entradas de pessoas em
Monte Verde.
Houve respeito e reconhecimento do prefeito Emydio Moreira Filho
pelo trabalho desenvolvido pela Acmv e SAMV para conseguir verba
para construção e seriedade na administração do portal.
Embora fizéssemos muitas cobranças, inclusive com matérias no jornal
Voz da Terra, o prefeito Emydio sempre foi educado e atencioso com
nossas críticas e nunca nos pressionou para que mudássemos de
atitude.
Diferentemente do que
aconteceu com seu sucessor. Dr. Mazinho, que, logo que tomou posse
iniciou processo contra a Acmv para assumir a administração do
portal.
Sempre julgamos que assim agiu porque não tinha o espírito
democrático do ex-prefeito Emydio e não aceitava as cobranças e
críticas, que recebia da Acmv e do jornal Voz da Terra.
Porém, o advogado Roberto Lucas, que nos defendia, foi competente e impediu
que ele conseguisse seu intento.
Seu sucessor, foi eleito novamente
o ex-prefeito Emydio, que não deu sequência ao processo, porque
sempre foi muito democrático, atendia as reivindicações da Acmv e
respeitava a liberdade de crítica, exercida pelo jornal Voz da Terra.
No entanto, o ex-prefeito Célio Faria dos Santos, que sucedeu a
Emydio, infelizmente como o Dr. Mazinho, irritado pelas
reivindicações com críticas e cobranças na omissão por serviço, que
deveria prestar a Monte Verde, retomou o processo.
O jornal voz da Terra noticiou a entrega das chaves ao prefeito
Mas, somente na metade de seu segundo mandato conseguiu seu intento. Tentamos acordo para que a
Acmv administrasse um dos lados do portal, mas não aceitou.
A Acmv levava a sério seu trabalho e prestava serviço não só aos seus
associados, mas a toda a população de Monte Verde e mantinha três
funcionários e o portal ficava aberto de mais de 10 horas
diariamente.
Sem custo nenhum para a Prefeitura.
Há esperança que algum prefeito de Camanducaia reconheça a
importância de uma parceria com a Acmv e permita que a comunidade volte a ter um
serviço de informação de qualidade no portal de entrada da cidade.
O jornal Voz da Terra noticiou
a entrega das chaves ao prefeito:
VOZ DA TERRA ONLINE
Acmv entrega Portal à Prefeitura de Camanducaia
A Associação Comercial de Monte Verde, no último dia 12 de abril
de 2005, fez a entrega definitiva do setor de informações
turística do portal de entrada da cidade, Risoleta Neves, após
administrá-lo por cerca de duas décadas.
Egydio Coelho da Silva faz a entrega da chave do Portal
ao prefeito Célio de Faria Santos.
Na foto, Egydio, subprefeito pastor Marcelo e o prefeito Célio
de Faria, dialogando sobre a administração e destino do "Risoleta
Neves".
Na foto, o último casal de turista atendido pela Acmv. Adquiriu
um guia.
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O lado esquerdo (de quem chega a Monte Verde) do portal, desde sua
inauguração, inicialmente sob a administração da Sociedade Amigos de
Monte Verde (SAMV), foi utilizado para fazer vigilância e dar alguma
segurança para o Distrito.
Porém, a SAMV não tinha estrutura administrativa suficiente para
executar esse trabalho. Por isso, a Acmv assumiu essa função também.
Chegamos a construir uma
B-Window, para facilitar o trabalho do vigilante.
Porém, o sucesso era relativo. Tanto que MV continuava com pouca
segurança, pois havia apenas um posto policial na Vila Operária,
distante da entrada e do centro e não cumpria seu papel, a contento
de um policiamento ostensivo.
Um dos assaltos, que ocorreram em MV e assustou a todos, aconteceu
na Pousada Moinho Velho. Os proprietários foram até amarados em
cadeira e roubados.
Convocamos uma reunião na Casa de Pedra dos moradores e empresários
para discutir o assunto, Lula, um dos sócios da Pousada, compareceu
e. emocionalmente, narrou o acontecido. Citou até a preocupação dos
criminosos de que poderiam ser barrados no portal.
Lula, então, pleiteou que a comunidade se empenhasse em construir,
junto ao Portal, o quartel da Polícia Militar e assim dar mais
segurança à comunidade.
A ideia ganhou corpo e Verner
Grinberg se comprometeu a doar o terreno para isso.
Muitas outras reuniões
aconteceram para viabilizar a construção do quartel.
O advogado Roberto Lucas, em nome da Acmv, iniciou campanha para
arrecadar dinheiro para a construção.
Abriu-se uma conta específica da Acmv no Bradesco para receber as
doação.
Até que teve una boa arrecadação, mas não foi suficiente. Por isso,
a comunidade começou a pleitear da Prefeitura que construísse o
quartel.
O então prefeito Célio Faria Santos resistiu à ideia e chegou a
sugerir que o dinheiro arrecadado fosse utilizado para comprar
câmeras e auxiliar na vigilância na entrada da cidade.
Porém, a Acmv não aceitou a sugestão e insistia que dinheiro
arrecadado e depositado em conta fora para construir o quartel e
somente sairia dessa conta para essa finalidade.
O prefeito acabou por aceitar
a incumbência de construir o quartel, mas alegava que não dispunha
de verba suficiente.
A prefeitura somente se sentiu em condições de executar a obra,
quando conseguiu vender uma rua de MV a uma pessoa interessada por
100 mil reais.
Finalmente o quartel foi construído e o associado Egon Boetcher
ficou encarregado de comprar os móveis utensílios, com o
dinheiro que se encontrava depositado na conta especial da Acmv.
A ESTRADA MV / CAMANDUCAIA
Talvez o problema, que mais
gerava reclamação de turistas, comerciantes e moradores, era a
condição precária da desta estrada.
Quando cheguei a MV, por volta de 1977, era totalqmente de terra,
sem nenhum asfalto.
Havia até alguns moradores, mais conservadores, que entendiam que
deveria continuar a ser de terra, sem nenhuma pavimentação.
Achavam que, se asfaltada, o fluxo de pessoas aumentaria demais e MV
perderia a característica de cidade pacata, que preservava a
natureza.
Mas eram minoria.
A maioria, pensava como o fundador Verner
Grinberg, que sonhava com a estrada asfaltada.
Desde a fundação de MV, ele penava para manter a estrada
transitável, principalmente quando chovia.
Normalmente, ele pagava a manutenção da estrada com seu próprio
bolso e a ajuda da Prefeitura era insignificante, que alegava pouco
recurso e que tinha que cuidar das estradas da zona rural e a de
MV/Camanducaia tinha tinha custo mais elevado.
Verner costumava pedir ajuda
aos comerciantes e moradores, mas poucos colaboravam.
Provavelmente, porque nem sempre podiam e ainda achavam que Verner
era rico.
Talvez até fosse, se comparado com a maioria dos comerciantes e
moradores, mas não podia tudo já que a manutenção de uma estrada de
terra já com bom movimento de veículos tinha custo elevadíssimo.
Recordo-me de uma chuva muito forte deixou a estrada quase
totalmente intransitável.
Procurei reunir os empresários e numa kombi, dirigida pelo Gustavo
Arraes, do hotel Cabeça de Boi, lembro também de que fizeram parte
da comitiva, Sílvio Pucci e o Eurico Cioban, proprietário do Hotel
Áustria. Aventuramos pela estrada enlameada a Camanducaia.
Era um pára e empurra o veículo e ainda ajudar outros carros,
atolados. Levamos quase duas horas para chegar a Camanducaia.
Todos sujos de barro fomos a
residência da vice-prefeita, pois o prefeito Odair Paiva Sá estava
viajando.
E chegamos a um acordo: os
empresários se encarregariam de fornecer o material e a Prefeitura a
mão de obra para melhorar a estrada.
Parece que o fato de que a festa da maçã, que era patrocinada pela
ACMV, evento conhecido no Estado e que fazia parte do calendário
turístico de Minas Gerais, não mais poderia ser realizada. O
produtor de maçã em Monte Verde, Mathias, comunicou que não tinha
mais condição de condição de continuar com plantação.
Fizemos então um comunicado aos jornais de Belo Horizonte que "festa
da maçã em Monte deixaria de acontecer em protesto contra o abandona
da estrada por parte do Governo de Minas Gerias". Que
publicaram, inclusive na televisão de Belo Horizonte.
Coincidência ou não, o
então governador de Minas Gerais, Newton Cardoso, cujo mandato
foi de 1987 a 1991, determinou a pavimentação até o quilômtro
treze e parou.
Durante o mandato de prefeito do Dr. Mazinho, como era do mesmo
partido do governador Eduardo Azeredo (1995 a 1999), fomos em
caravana a Belo Horizonte, inclusive com a presença do fundador da
cidade Verner Grinberg, e houve uma promessa do governador em
liberar verba para andamento do asfaltamento da estrada. De fato,
ele destinou 300 mil reais.
A verba não era suficiente para executar um bom asfalto, mas mesmo
assim Dr. Mazinho contratou empresa que se comprometeu a completar o
serviço.
O asfalto, que o povo chamou de "casca de ovo", não resistiu às
primeiras chuvas e a estrada ficou pior do que estava, cheia de
buraco no asfalto.
O asfalto somente se completou, no governo de Aécio Neves, 2003 a
2010.
Aécio é neto de Tancredo Neves e Risoleta Neves, que foi
patrocinadora da verba destinada à construção do Portal de Monte
Verde, que leva o nome dela.
Recordo-me de que Aécio Neves
fez um pronunciamento muito duro contra o então Lula da Silva,
quando presidente do Brasil, de 2003 a 2011, em razão da falta de
conservação de estradas no Brasil.
Irritado, escrevi um artigo, dizendo que Aécio não tinha moral para
criticar o então presidente, porque a "estrada de Monte Verde a
Camanducaia, com menos de 30 quilômetros estava abandonada e
esburacada".
E se tratava de estância climática e turistica importante para a
economia mineira, pois, ficava a apenas 160 quilômetros da cidade de
São Paulo, maior polo emissor de turistas da América do Sul.
Enviei esse artigo para todos jornais, rádios e TV de Belo
Horizonte.
Não tenho certeza se isso ajudou a que Aécio decidisse autorizar o
DER de Minas a executar o re-asfaltamento e assumir definitivamente
a conservação da estrada. Isso não é importante.
Importante é que o DER de Minas hoje conserva a estrada, que era
muito mal conservada pela Prefeitura de Camanducaia, que, realmente,
não dispõe de estrutura e verba suficientes para manter em bom
estado a estrada, que tem tráfego intenso.
Luta sem sucesso pela
emancipação
Logo que José Sarney assumiu a
presidência da República, com a morte de Tancredo Neves, tive uma
proposta de Vicente Martorano, um veranista que possuía casa em
Monte Verde.
Seus descendentes mantém hoje um estabelecimento muito
importante como atração turística em MV, "patinação no gelo".
Martorano era amigo de José Sarney, a quem ajudava, inclusuve com
colaboração monetária em suas campanhas eleitorais.
Ele se prontificou a levar em mãos um abaixo-assinado de moradores
de Monte Verde ao então presidente da República, para que houvesse
legislação que facilitasse nossa emancipação.
Pronto o abaixo-assinado, ele
o levou ao presidente.
Sarney lhe disse que isso seria resolvido na nova constituição que
seria aprovada em 1988, o que de fato aconteceu.
Portanto, houve muito trabalho e empenho
para se conseguir a emancipação de Monte Verde, tornando-o município
com prefeito e câmara municipal.
Iniciciei, em2001, que durou até 2007, um fórum na internet com
troca de mensagens por emails para todos os que no Brasil tinham
informações e poderiam ajudar o que conseguíssemos a emancipação.
Nesses seis anos, recebi e
tansmiti muitas informações e opiniões de pessoas interessadas em
emancipar seus respectivos distritos.
Foi tudo em vão porque o Governo Federal não tinha e ainda não tem
desejo de facilitar a emancipação de distritos.
A possibilidade de emancipação de distritos ficoi engessada.
FÓRUM S/EMANCIPAÇÃO DISTRITOS EM 03/MARÇO/2007
Emenda Constitucional n.º
15 de 26-09-1.996 (Emenda José Serra),
Existe sim ausência total de Lei, em face da não regulamentação da
Emenda Constitucional n.º 15 de 26-09-1.996 (Emenda José Serra), que deu
nova redação ao parágrafo 4.º da Constituição Federal.
Em tempo:
Estes textos foram escritos de memória e pode ter alguma falha.
Se alguém, tiver melhor informação, solicito que colabore.
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